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A mostrar mensagens de 2013

Deixa Chuver...

E se chuver Deixa chuver Deixa a chuva Lavar as impurezas do mundo E alimentar a sua pureza Penetrar bem fundo Deixa que as lágrimas Limpem a máscara do rosto Deixa-me molhar as páginas Com a benção do desgosto E se chuver Deixa chuver Deixa que a tristeza Te deixe ter a certeza Que sempre tiveste medo de ter

Coração fraco...

Abre-me as feridas Magoa-me as cicatrizas Já foram estas vidas Segue essas directrizes Não tentes voar Nem comeces a caminhar Continua a rastejar Se abro uma asa Empurram-me logo Para baixo de casa Para baixo do  chão Já nem é logro Já não é razão Fica ai em baixo Não saias do buraco Porque a queda é grande E tens um coração fraco

Inconsciente

Tenho medo Do futuro Já não está cheio de possibilidades E de oportunidades Começa a apertar a esperança E a acabar o sonho de ser criança Crescer Trabalhar Comprar Dormir Trabalhar Comprar Comer Mais crescer E o que eu vejo? Uma casa vazia Dias no meio do nada Uma luta intensa por criar Provar algum valor Mas se ninguém olhar A vida perde o sabor Já está tudo feito E o meu melhor Já não é suficiente E começo a fechar os olhos E a tornar-me Inconsciente

Solidão

Sempre a mesma história Só que não melhora, piora. Essa doença sem remédio Muito pior que tédio Arranca a força de estar A força de vontade Para quê levantar E pensar na saudade Não me deixa escrever Só sobre isto, não pode ser Mas quê se não há mais nada E já só apetece ficar deitada Companhia da preocupação Porque já não saber fazer Leva à destruição Daquilo que quero ser E talvez seja esse o problema Talvez seja outro qualquer Mas os meus sonhos são melhores E só quero adormecer

Escadinhas do Casal da Manhã

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A manhã casou-se com a tarde E deu à luz o meio-dia Onde o sol está mais alto e mais arde Os pássaros cantam com mais poder As flores olham para cima Está na hora de comer Agora... Para que lado, onde me posso esconder? Toda a gente cá fora e lá dentro a conviver A escolha não é feita Segue-se o nariz Duma escada imperfeita Esconder não acontece Ninguém sabe Ninguém quer saber Toda a gente pode ver À luz do que eu poderia trazer Não há nada a perder Nada a esconder Só eu perco Perco-me nos sons do silêncio Nos passos sem movimento Dum coração sem alento Então chego às Escadinhas do Casal da Manhã Desço-as desta vez Passo pelo Jardim do Até Amanhã E sento-me nos olhos do que tu não vês

Eremita

Já só há um pedacinho de terra Aqui No peito do meu coração Porque a lua que fingi Já não sorri De satisfação O cantar mudo de um pássaro cego Conta-me o sono da constelação Onde construí o meu ego Mas o conto de mulher não me serve E a criança já não brinca Nem absorve E o futuro Que anda por aí perdido Como um furo Num pneu vazio O sentido enlouquece Porque as cores se misturam O negro na terra é branco no espaço A paz na guerra é só um pedaço Do buraco que me atormenta E já não reinventa O mundo não corre fácil Porque as regras foram escritas e descritas E agora somos todos Eremitas

Heróis da Natureza

Porque não celebrar Esta proeza O destino comum Dos heróis da Natureza A força que tomam por garantido Esquecido pela gula dos benefícios A honra e o respeito pelos sacrifícios Ela morreu por vós A criatura que acabou de nascer Ela sofreu por vós A mãe que doou o leite da cria que acabou crescer Toda a carne agora inanimada Que conheceu a vida para vos servir Aquela coragem danada Sem hipótese de fugir Mas fazem essa proeza Heróis animais Tenho a certeza Que valem demais Por isso ajoelho-me com honra Baixo a cabeça por respeito Ao valor desprezado de cada feito Celebro então Cada proeza Dos super Heróis da Natureza

O pesadelo...

Essa criatura assustadora Que assombra a noite do seres dormentes Nessa pose devoradora Que sobressalta os inconscientes É o meu dia agora Só a noite traz paz E os olhos abro embora Queira ficar para trás O pesadelo é acordar Para um mundo que me ignora E apesar de querer caminhar Me pesa o medo e me devora Sempre a solidão que não me esquece O sorriso tão raro que me faz chorar Então porque achas que não me apetece acordar?

Voltar a voar

Preciso de palavras de coragem De toques de entusiasmo De passos em frente Dum caminho, duma viagem Preciso dos carris certos De rodas de alento De correr contra o vento Preciso de ânimo Para mexer este corpo Preciso dum empurrão E força para o esforço Preciso de cortinas abertas Sol a entrar Encontrar as palavras certas Para voltar a voar

Chama

Sei que não devia importar Nem pode Depois do que me ensinaram E eu aprendi Não pode Mas importa-me Que alguém me queira aqui No mundo, no planeta, nesta terra Neste Universo Mãe não conta Mãe não pode saber Mãe fez-me por querer E saiu-lhe isto Um aborto ambulante Sempre a tentar Sempre a falhar Nunca quis desistir  Mas é dificil persistir Se ninguém me quiser aqui Porquê dar E ser recebida com fúria Porquê falar Se ainda piora? Não gosto de ser humana Não gosto de desgostar De ter ciúmes e tristeza De me sentir só Parece que toda a gente se esqueceu E eu comecei a esquecer também Que também existo, e de quem sou Quem sou eu já não sei. Fui para longe Mas ainda não terminei Quero voltar Como já não sei E não está ninguém a chamar

Já não há amanhecer

Quero me esconder No meu canto, no meu lugar Quero chorar E adormecer Só voltar a acordar Quando o mundo amanhecer Quando o mundo acabar Quero verdade Poder dizê-la sem remorso Quero amizade e carinho Não quero que ninguém esteja sozinho Quero ter Para poder dar Para poder ser Para poder importar Não quero nada para mim Só a chance de existir Quero um universo assim Em que não me arrependa de sorrir Mas vou voltar Vou só chorar Até adormecer E quando o mundo acabar Já não há amanhecer